sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Poema d'acromática solitude urbana




Sobre a calçada de pedras,
à mesa escura repousa
copo já quase vazio:
cabelos grisalhos,
erosões na testa,
barba branca,
peito fechado,
sandálias pretas,
pés de Portinari.
 Ao lado, cadeira vazia
na hora cinza da vida.
Cena humana comum
d'acromática solitude urbana.





sábado, 19 de julho de 2014

Poema do pecado humano





Uma vida eterna sem pecado,
exuberante ilusão de óptica,
é meta nula d'alma asséptica,
contaminada por pontificado.

Desse moral mundo insípido,
fujo para salvar-me perfeito.
Semelhante a Ele em defeito,
nasço em corpo não límpido.

Abro portas e reinvento laços
entre cegos desejos ardentes.
Noites e dias: descompassos.

Cometo erros e reitero crime
de carne, palavra, amor e luz;
tudo o que o humano exprime.




quinta-feira, 8 de maio de 2014

Poema do rivotril do mundo





No jardim dos animais,
feras desfilam nuas
comendo carne crua.
Verdades demais.

Na selva dos homens,
elegâncias à lua,
falácias ao dia.
Mentiras demais.

Vida tensa, sem cura.
Aflitos conflitos,
sempre problemas.
Dilemas demais.

Em qualquer recanto,
sempre cantos de aflição.
Impaciências demais.

Pra tanta ansiedade,
queria ter o segredo...
do rivotril do mundo.



sábado, 1 de fevereiro de 2014

Poema das pérolas na cama

 
 
 


Em noites de verão ímpar,
agito, risos e muita euforia:
minhas riquezas suando vida!
 
Nesse desconcerto de alegria,
o errado vira sinal de acerto
e fora do lugar local correto.
 
Provocativos ballets,
desafiadoras respostas,
dramáticas lágrimas,
meticulosos sorrisos.
Tudo encanto pra alma.
 
Mas calma de quem as ama
é uma cerveja bem gelada
com as pérolas na cama







segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Poema da nave carne




Nossa carne é jaula que nos limita
ao espaço-tempo da gravidade,
mas é nave que nos liberta
por viagens moleculares.

Além de idéias atômicas,
permite-nos vivências reflexivas,
tal qual sentir a dor metafísica
de mundano cálculo renal.

Assim nos remete ao afeto alheio,
desperta-nos o temor ante o espelho,
e reorganiza nossos prumos,
rumos e amores.