sábado, 29 de junho de 2013

Fast food


       Olhei o relógio e já eram treze e vinte. Pelo adiantado da hora, resolvi almoçar em algum lugar por perto onde eu não me demorasse, porque às quatorze haveria uma reunião de trabalho. Decidi-me então por um restaurante de comida a quilo próximo.


       Caminhei até o corredor e a porta do elevador se abriu. Quando eu estava entrando, um colega me chamou. Parei para falar com ele e foi o suficiente para a faminta porta quase me mastigar, não desse eu um pulo instintivo para trás.

       Apensar do susto, cheguei inteiro à calçada. Olhei para o sinal de trânsito e ainda havia alguns segundos de luz verde. No meio da travessia um bando de maitacas a busca de comida sobrevoou aos berros a faixa de pedestres. Olhei para o alto para ver as barulhentas aves e nesse tempo uma moto de entregas de restaurante quase passou por cima de mim. Corri e ao som de buzinas alcancei o outro lado.

       Finalmente no restaurante fiz meu prato e me sentei no único lugar vago, uma mesa próxima à TV, a qual transmitia uma reportagem a respeito dos efeitos do estresse na produção de leite de uma fazenda. A ciência demonstra que nem as "mimosas" holandesas estão salvas dos efeitos da pós-modernidade.

       Larguei os talheres e mantive o olhar fixo na tela. A garçonete murmurou algo. Por reflexo, balancei negativamente a cabeça. Rapidamente ela jogou um prato já usado sobre o arroz, o purê e as almôndegas e desapareceu com o meu intocado almoço.

       Por segundos fiquei atônito até compreender que a garota não havia me perguntado se eu queria beber algo, mas sim se eu ainda iria comer a comida na qual eu ainda nem havia tocado. Bem, expliquei o ocorrido ao gerente, entreguei-lhe a comanda, disse-lhe que eu não iria pagar a conta e fui embora, porque, afinal, o tempo não para, seja para os elevadores, maitacas, motos, vacas, garçonetes e até para mim.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Vinho Tinto e Luta


    

      Aroma intenso, textura macia, sabor marcante impresso pelo fungo penicillium e aspecto bem peculiar. Estou me referindo ao famoso queijo italiano tipo azul, gorgonzola. Para acompanhá-lo, o vinho precisa ter personalidade forte, um tinto encorpado, por exemplo.

     Essa foi a combinação que resolvi degustar hoje à tarde, ao chegar mais cedo a minha casa, depois de ter sido liberado antes do final do expediente em razão de manifestação popular ocorrida no Centro do Rio de Janeiro. Sobre a mesa da sala coloquei a garrafa do tinto, uma taça, uma jarra de água, um copo, a tábua com um bom pedaço de gorgonzola, uma faca, um garfo e um guardanapo.

     Saquei a rolha e enchi a taça. Enquanto deixava o vinho respirar, liguei a televisão, bebi um pouco de água e cortei em cubos uma boa porção do queijo. A imagem a que assisti tinha sabor tão marcante quanto o tinto e o gorgonzola. Milhares de cidadãos pelas ruas do Rio e de outras cidades do Brasil manifestando insatisfação pela maneira como o destino deste país vem sendo conduzido, assim como indignação com o comportamento imoral, inescrupuloso e criminoso da nossa classe política.

     Vendo aquela cena, apreciei o aroma, bebi um bom gole do vinho e experimentei o formaggio. Tudo aquilo aqueceu meu peito. Sensação deliciosa. Mas logo veio um sentimento de culpa por não estar lá. Lembrei então de alguns colegas que foram para a passeata. Em especial pensei em uma amiga. Menina jovem, inteligente, linda, de personalidade admirável. Às vezes suave e delicada como um branco ou espumante, outras, um tinto encorpado verdadeiramente grandioso.

     Comi mais alguns pedaços de queijo, terminei de beber o meu vinho e fiquei ali, imaginando aquela garota linda representando o povo brasileiro. Tenho certeza que ela personifica honrosamente a nossa nação e que, se depender dela, o caminho das ruas não será mais esquecido, bem como que de agora em diante os gritos de basta não ficarão mais presos na garganta.

Obs: Dedico este texto a Clarissa, Jéssica, Thalita, Raphael, Marisa, Christian e a todos que foram às ruas!

terça-feira, 18 de junho de 2013

Coisas Boas da Vida

    

         Quem não gosta de viagens caras, boa comida e vinho francês? Adoro tudo isso e ainda acrescentaria a minha preferência, cavalos de raça! Acho admirável passear por Paris, saborear um prato da culinária francesa acompanhado de um excelente cabernet sauvignon. Uma temporada na Ecole d'equitation de Saumur dispensa palavras.

     Contudo, Paris, New York, Londres ou qualquer ilha do Caribe jamais serão capazes de me proporcionar maior alegria do que a que sinto quando acordo cedo no domingo, tomo café fresco com pão, manteiga e mortadela defumada, assisto Globo Rural e depois vou com a criançada brincar na pracinha.

     Acho muito pouco provável também, que todas aquelas coisas caras me tragam maior satisfação do que ver Aninha e Arthur fazendo caretas e dando gargalhadas juntos, enquanto almoçamos frango de padaria com vinho da Serra Gaúcha comprado no mercado da esquina. Quanto aos cavalos de raça e a Ecole d'equitation de Saumur? Bem..., aí..., levo a molecada para montar comigo!

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Experimental

    

       Acredito que a vida seja uma trajetória perene de tentativas. É a trilha do acertar e do errar. É um processo contínuo de aprendizado experimental.

     Experimentamos de tudo ao longo do caminho. Vivemos alegria, tristeza, prazer, dor, amor, ódio, sucesso, fracasso, saúde, doença.

     Tudo o que fazemos são tentativas, experiências. Mas como saber se acertamos ou erramos? Tudo pode ser tão relativo...

     Será que tudo o que nos traz alegria é acerto? Será que tudo o que nos causa dor é erro? Definitivamente não sei.  Mas independente do que seja o certo ou o errado, tenho a convicção plena de que a minha vida é uma sucessão interminável de erros e acertos ou acertos e erros, porque senão ela não teria o menor propósito de ser.


domingo, 2 de junho de 2013

Poema Luz e Calor





Hoje senti desejo de luz e calor;
abracei estrelas.
Uma onda de fogo percorreu o meu corpo,
beijou a minha mente.

A clarividência vencia tudo,
até os sons da alma.
Veio a paz, a calma.
Meu corpo flutuou livre;
vi o espaço, a Terra.

Mergulhei em seu azul gelado,
nadei nu de tudo.
Uma explosão...
Acordei!




sábado, 1 de junho de 2013

Cavalos!



         Talvez seja uma das lembranças mais antigas da minha infância, mas me recordo como se fosse ontem o dia em que montei pela primeira vez. Era um cavalinho tordilho de aluguel em pracinha. Alguns o chamariam de pangaré, mas para mim era um bravo gigante, Pegasus!

        Meu pai pediu ao rapaz que o conduzia para se afastar um pouco, para tirar uma foto. Naquele momento, o bicho bateu o casco no chão com força, se tremeu todo para espantar as moscas, do alto da crina à cauda, e deu um longo e sonoro sopro fazendo vibrar narinas e beiços.

        Aquilo fez o cheiro de cavalo de roça subir e invadir a minha alma. Ao mesmo tempo meu coração disparou deliciosamente e por instinto me estiquei para segurar as rédeas. Aquela sensação maravilhosa provocada pela adrenalina e aquele cheiro inconfundível ainda estão aqui, dentro de mim.

        Depois desse vieram muitos outros. Cavalinhos de aluguel, de fazenda, de hotel, de quartel, de clube, de todas as raças, tamanhos e cores. Foram cavalgadas, passeios, desfiles, quilômetros a galope, saltos, tombos e algumas fraturas pelo corpo. Dentre todos guardo em meu coração especialmente um, Voust Noir.  Desculpe-me velho guerreiro pelo mau jeito na hora da despedida. Fique com Deus.