Tirando os que têm alma de Mineiro,
porque são discretos até na loucura,
desconheço bom poeta totalmente temperado,
pois poesia é transbordamento de sentimento.
Quando o saco enche, os versos vazam fácil,
ácidos como vinagre ou ardidos como pimenta.
Se o coração explode, o poema ecoa longe,
doce, amargo ou salgado,
depende do sabor do beijo,
do abraço, do carinho,
do fel ou das lágrimas,
que derramaram a tinta da pena.
Enfim, na arte do transbordamento,
tudo é tempero e destempero.
Esse poema foi inspirado em trecho escrito pelo poeta inglês William Wordsworth (1770-1850), in Preface to Lyrical Ballads: "Poetry is the spontaneous overflow of powerful feelings: it takes its origin from emotion recollected in tranquility" (A poesia é o transbordamento espontâneo de sentimentos intensos: tem a sua origem na emoção recordada num estado de tranquilidade). Apesar dessa última observação, penso que nem sempre a poesia aguarda o tal estado de tranquilidade para se manifestar. Muitas vezes ela irrompe no calor da emoção mesmo!
Mas é claro que o poema acima é apenas uma visão poética e romântica do processo criativo da poesia, portanto, desprovida de fundamento científico. Aliás, vários poetas maravilhosos, acredito que Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto*, dentre muitos outros, não se deixavam levar por destempero de momento. Escreviam com equilíbrio e serenidade - "de cabeça quente só se comete crime".
Para falar a verdade, creio que uma visão, ou situação, não exclui outra. Ou seja, belas poesias podem ser construídas como projetos de arquitetura, como dizia João Cabral de Melo Neto**. No entanto, acho mais romântico pensar, assim como Wordsworth, que a origem da poesia é o transbordamento do sentimento experimentado ao longo da vida.
(*) “Os poetas que escrevem por escassez de ser, como eu, planejam os livros, têm um vazio a preencher. Os outros transbordam.”
(**) “Para mim a poesia é uma construção, como uma casa. Isso eu aprendi
com Le Corbusier.”
Para falar a verdade, creio que uma visão, ou situação, não exclui outra. Ou seja, belas poesias podem ser construídas como projetos de arquitetura, como dizia João Cabral de Melo Neto**. No entanto, acho mais romântico pensar, assim como Wordsworth, que a origem da poesia é o transbordamento do sentimento experimentado ao longo da vida.
(*) “Os poetas que escrevem por escassez de ser, como eu, planejam os livros, têm um vazio a preencher. Os outros transbordam.”
(**) “Para mim a poesia é uma construção, como uma casa. Isso eu aprendi
com Le Corbusier.”
Segunda possível versão
Há tempo em que poesia
é transbordamento de sentimento.
Quando o saco enche, os versos vazam fácil,
ácidos como vinagre ou ardidos como pimenta.
Se o coração explode, o poema ecoa longe,
doce, amargo ou salgado,
depende do sabor do beijo,
do abraço, do carinho,
do fel ou das lágrimas,
que derramaram a tinta da pena.
Mas em outro tempo,
poesia é arquitetura,
bem planejada e executada,
de retrato da realidade
e preenchimento de vazios,
em construção ou reforma,
pessoal ou social.
de retrato da realidade
e preenchimento de vazios,
em construção ou reforma,
pessoal ou social.
Ao fim, na arte do transbordamento,
tal qual na do retrato ou preenchimento,
tal qual na do retrato ou preenchimento,
tudo é mistura,
de tempero, destempero
de tempero, destempero
e projeto calculado.
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