quinta-feira, 20 de junho de 2013

Vinho Tinto e Luta


    

      Aroma intenso, textura macia, sabor marcante impresso pelo fungo penicillium e aspecto bem peculiar. Estou me referindo ao famoso queijo italiano tipo azul, gorgonzola. Para acompanhá-lo, o vinho precisa ter personalidade forte, um tinto encorpado, por exemplo.

     Essa foi a combinação que resolvi degustar hoje à tarde, ao chegar mais cedo a minha casa, depois de ter sido liberado antes do final do expediente em razão de manifestação popular ocorrida no Centro do Rio de Janeiro. Sobre a mesa da sala coloquei a garrafa do tinto, uma taça, uma jarra de água, um copo, a tábua com um bom pedaço de gorgonzola, uma faca, um garfo e um guardanapo.

     Saquei a rolha e enchi a taça. Enquanto deixava o vinho respirar, liguei a televisão, bebi um pouco de água e cortei em cubos uma boa porção do queijo. A imagem a que assisti tinha sabor tão marcante quanto o tinto e o gorgonzola. Milhares de cidadãos pelas ruas do Rio e de outras cidades do Brasil manifestando insatisfação pela maneira como o destino deste país vem sendo conduzido, assim como indignação com o comportamento imoral, inescrupuloso e criminoso da nossa classe política.

     Vendo aquela cena, apreciei o aroma, bebi um bom gole do vinho e experimentei o formaggio. Tudo aquilo aqueceu meu peito. Sensação deliciosa. Mas logo veio um sentimento de culpa por não estar lá. Lembrei então de alguns colegas que foram para a passeata. Em especial pensei em uma amiga. Menina jovem, inteligente, linda, de personalidade admirável. Às vezes suave e delicada como um branco ou espumante, outras, um tinto encorpado verdadeiramente grandioso.

     Comi mais alguns pedaços de queijo, terminei de beber o meu vinho e fiquei ali, imaginando aquela garota linda representando o povo brasileiro. Tenho certeza que ela personifica honrosamente a nossa nação e que, se depender dela, o caminho das ruas não será mais esquecido, bem como que de agora em diante os gritos de basta não ficarão mais presos na garganta.

Obs: Dedico este texto a Clarissa, Jéssica, Thalita, Raphael, Marisa, Christian e a todos que foram às ruas!

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