sexta-feira, 5 de julho de 2013

Eu, Arthur e o Caviar

     
     
       Senti um leve toque em meu rosto. Abri os olhos e não vi nada, estava tudo escuro. Voltei a dormir. Em seguida, veio um apertão no nariz acompanhado de uma vozinha dizendo: - Vamo papai! Vamo papai! Abri novamente os olhos e, aos poucos, consegui ver uma criaturinha minúscula com chupeta na boca e cabelos loiros embaralhados tentando sacudir a minha cabeça. - Vamos aonde, Arthur? Perguntei. - Sala, Mickey, mamá papai!

      Olhei o relógio e ainda eram três e meia da madruga. Peguei o moleque no colo e fui para a sala. Liguei a TV, coloquei um DVD e fui para a cozinha fazer mamadeira. Fiz o mamá e abri a geladeira procurando algo para eu comer. De início, nada me entusiasmou, mas um potinho me chamou a atenção. Era caviar legítimo trazido na véspera pelo meu cunhado de uma viagem à Rússia. Pensei: - A esta hora este troço vai embrulhar meu estômago. Ignorei o pensamento.

       Peguei a mamadeira, as ovas de esturjão, um saco de torradas e fui para a sala. Ajeitei Arthur em meu colo e lhe dei a mamadeira. Fiquei observando meu bichinho bebendo aquele leite puro e me lembrei de que quando criança adorava também. Hoje não suporto. Atualmente, leite só com muito Toddy.

      Após terminar, satisfeito se esparramou no sofá ao meu lado. Aproveitei e abri o pote de caviar. Com uma pequena colher, coloquei uma porção sobre uma torrada. Cheiro sutil, sabor levemente salgado, textura gelatinosa mas firme. Estava delicioso e meu estômago aceitou bem! Na hora me lembrei de que até a adolescência repudiava a ideia de comer ovas ou peixe cru. Contudo, recordei-me de que um dia meu pai trouxe caviar de uma viagem e eu experimentei, estranhei no início, mas depois gostei. Hoje gosto de caviar e adoro sashimi de salmão, atum e haddock.

      Curioso, Arthur se levantou e apontou para iguaria russa dizendo: - Bala papai. Qué bala papai! Bem, sei que não é bala, mas a vida é experiência...  Inseri uma colherzinha e meu pequeno companheiro sorridente fechou a boca, bochechou um pouco e fez cara de espanto. Óbvio que ele estava esperando alguma coisa doce e se deparou com algo salgado com sabor de maresia. - brruuuhhh.... Cuspiu tudo e disse: - Eca papai, eca papai, qué não, qué não.

      Depois da satisfação do leite quentinho, da decepção das balinhas pretas com gosto de aquário e de assistir ao mesmo desenho por três horas dando gargalhadas, Arthur se deitou no sofá e dormiu. Enquanto isso saboreei mais um pouco de caviar e fiquei pensando em como os nossos gostos e prazeres se transformam ao longo da vida. Dormi às seis e meia e acordei às oito, mas fui trabalhar feliz da vida por ter vivenciado uma madrugada bem inusitada, daquelas das quais a gente jamais se esquece.

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